segunda-feira, 28 de outubro de 2019

REPORTAGEM


Abraçar a Poesia

No dia 21/10/2019, a Biblioteca da Escola EB 2/3 Professor Paula Nogueira, em Olhão, recebeu, graciosamente, dois poetas, no âmbito do V Encontro Internacional da Poesia a Sul.


A sessão começou com a explicação de como tudo começou, há cinco anos. Segundo o Dr. Fernando Cabrita, neste momento, são convidados para visitarem várias cidades, quer portuguesas, quer internacionais, devido ao mérito do evento.
Aproveitou para convidar alunos e professores a estarem presentes no Auditório Municipal de Olhão, na próxima sexta-feira, 25 de outubro, pelas 21.30h, para um grande Recital de Poesia de Expressão Portuguesa, pelo maior Diseur (declamador) de poesia do mundo, o Embaixador Lauro Moreira, do Brasil. Basta fazer o pedido, através da biblioteca escolar, a solicitar o número de bilhetes. A entrada está condicionada à entrega de bens alimentares para os animais protegidos pela associação ADAPO, que estará presente para o ato de solidariedade.


Joaquin Gonzalez Málaga (Sevilha), que faz parte da agência de Creaturas Literárias, que edita, promove, critica, recolhe e publica livros, apresentou um poema de um dos quatro poetas homenageados, Walt Whitman.
A razão da escolha deste poeta está no facto de se tratar de um escritor adiantado para o seu tempo, fundador na nova poesia dos Estados Unidos da América do Norte, com uma poesia muito atual, reunida no seu livro Leaves of Grass (traduzido como Folhas de Relva).
Este poeta ficou conhecido a partir do poema Capitão, ó meu capitão, incluído no filme O Clube dos Poetas Mortos mas, por ser muito longo, deu-se preferência a outros dois:




Canto a mim mesmo

Canto a mim mesmo
à pessoa única separada
embora diga a palavra Democracia, a expressão Massa.

Canto a fisiologia dos pés à cabeça,
não à fisionomia só, nem ao cérebro só
dignos também da Musa,
digo que a Forma completa é muito mais valiosa,

Canto à vez à Mulher e ao Homem,
à Vida ardente de paixão, de pulso e de poder,
disposta às livres ações ditadas pelas divinas leis,

O Homem Moderno eu canto.

Poetas do Porvir

Poetas do porvir! Oradores, cantores, músicos do porvir!
Não é dia de eu me justificar e responder ao que vim.
Mas vós, nascidos de novo, continentais, telúricos,
atléticos, maiores do que os conhecidos antes,
erguei-vos! pois deveis fazer-me justiça.

Eu mesmo apenas escrevo uma ou duas palavras
indicativas do futuro,
apenas avanço um momento
e logo me apresso a voltar à escuridão.

Sou um homem que, vagando à aventura
sem deter-se nunca muito,
passa a vista casual em frente para logo desviar a cara,
deixando a prova e a definição,
esperando de vós o mais importante.



 O poeta Fernando Cabrita, apesar de poder agraciar-nos com a sua poesia, deu primazia a um poema de Luís Nogueira, que assina Luís Ene, poeta farense, para que se possa perceber que se pode fazer poesia com tudo.
Deixou-nos a mensagem de que a poesia tinha de ter algum objetivo, que não era um mero jogo de palavras, tinha de servir para as pessoas pensarem sobre si próprias, sobre a vida, sobre o que é a sociedade onde estão, sobre as relações entre uns e outros e também serve para nos rirmos do que tem graça. Serve ainda para mostrar que cada um é como é e não deve pretender fazer-se passar por outra coisa


Porque queria parecer mais magro,
certo homem passou a andar na companhia de gordos.
E porque queria parecer mais inteligente,
passou a andar na companhia de idiotas.
Verdade seja dita as coisas não lhe correram bem: os gordos achavam-no idiota, e os idiotas achavam-no gordo.  




Depois foi a vez do 6º C mostrar as suas artes, declamando em coro o poema narrativo Nau Catrineta e fazendo uma leitura expressiva de A Bela Infanta, versões recolhidas por Almeida Garrett.






Finalmente, abriu-se o espaço de perguntas e respostas e ficou-se a saber que a ideia de organizar estes encontros internacionais surgiu da vontade de apresentar uma outra vertente de Olhão, a da cidade engrandecida pela sua atividade intelectual, e a levar as futuras gerações a orgulharem-se disso. Na sua organização estão apenas seis pessoas, que participam de forma direta, mas contam com a parceria da agência literária de Sevilha e o apoio de equipas da CMO para colocação de cartazes, colocação de cadeiras, etc.
A divulgação do evento começou a ser pelo Facebook com a partilha de fotografias, contando com a sua divulgação nas três regiões originais: Portugal, Espanha e Marrocos, e correu muito bem. Mas o mais importante é haver disposição por parte das pessoas para verem o que é.
O apoio para a organização deste festival vem vários lados: da Câmara Municipal de Olhão, que desde o primeiro instante incentivou a ideia de promover o concelho, colocando-o na rota de eventos culturais; da Fesnina, com a cedência do auditório para os eventos de craveira internacional, bem como do Programa 365 Algarve, que contribui para estes eventos fora da época alta. É preciso pagar a publicidade, os livros publicados para oferta, o alojamento, comida para quem vem de fora (este ano temos gente que vem do México, Costa Rica, Rússia, Ucrânia, Bélgica, França, Finlândia) durante estes dez dias em que decorre o evento.
Satisfeitos com as questões mais administrativas, os alunos passaram aos aspetos mais criativos, procurando saber como lhes surgiu esse gosto pela poesia: para o Dr. Fernando Cabrita tudo começou com a rica biblioteca que tinha em casa que lhe facultou a leitura precoce e o gosto por esta arte. Para Joaquin Gonzalez Málaga essa sorte partiu de ter bons professores, que lhe apresentaram poemas de grandes poetas como Miguel Hernandez, Augusto Machado, Federico García Lorca, a partir de cassetes de áudio e assim criou esse gosto. 





Confessa escrever agora poemas narrativos, mas gosta também de microficção, isto é, pequenas reflexões. A sua poesia é sintética, com versos livres, sem rima, com pouca musicalidade e objetiva levar os outros a pensar. Cultiva a poesia com piada, joga com as palavras e com os seus múltiplos sentidos, para um público adulto.

Diz ter um carinho muito especial por Walt Whitman, porque foi o primeiro livro que comprou e está traduzido no castelhano. Não se atreve a ler os outros autores homenageados, porque as traduções são em inglês, língua que não domina.

A sessão terminou com uma grande salva de palmas e ainda com a oferta da Revista Poesia a Sul e uma nova coleção dos Autores da Poesia a Sul, que se encontram disponíveis na biblioteca para consulta.

   
                           

Texto da Prof.ª Cândida Vieira
Fotografias das Profs Cândida Vieira e Teresa Pedro
22/10/2019

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