Abraçar a Poesia
No dia 21/10/2019, a Biblioteca
da Escola EB 2/3 Professor Paula Nogueira, em Olhão, recebeu, graciosamente,
dois poetas, no âmbito do V Encontro
Internacional da Poesia a Sul.
A sessão começou com a explicação
de como tudo começou, há cinco anos. Segundo o Dr. Fernando Cabrita, neste
momento, são convidados para visitarem várias cidades, quer portuguesas, quer
internacionais, devido ao mérito do evento.
Aproveitou para convidar alunos e
professores a estarem presentes no Auditório Municipal de Olhão, na próxima
sexta-feira, 25 de outubro, pelas 21.30h, para um grande Recital de Poesia de
Expressão Portuguesa, pelo maior Diseur
(declamador) de poesia do mundo, o Embaixador Lauro Moreira, do Brasil. Basta
fazer o pedido, através da biblioteca escolar, a solicitar o número de
bilhetes. A entrada está condicionada à entrega de bens alimentares para os
animais protegidos pela associação ADAPO, que estará presente para o ato de
solidariedade.
Joaquin Gonzalez Málaga (Sevilha),
que faz parte da agência de Creaturas
Literárias, que edita, promove, critica, recolhe e publica livros,
apresentou um poema de um dos quatro poetas homenageados, Walt Whitman.
A razão da escolha deste poeta
está no facto de se tratar de um escritor adiantado para o seu tempo, fundador
na nova poesia dos Estados Unidos da América do Norte, com uma poesia muito
atual, reunida no seu livro Leaves of
Grass (traduzido como Folhas de Relva).
Este poeta ficou conhecido a
partir do poema Capitão, ó meu capitão,
incluído no filme O Clube dos Poetas
Mortos mas, por ser muito longo, deu-se preferência a outros dois:
Canto a mim mesmo
Canto a mim mesmo
à pessoa única separada
embora diga a palavra Democracia, a expressão Massa.
Canto a fisiologia dos pés à cabeça,
não à fisionomia só, nem ao cérebro só
dignos também da Musa,
digo que a Forma completa é muito mais valiosa,
Canto à vez à Mulher e ao Homem,
à Vida ardente de paixão, de pulso e de poder,
disposta às livres ações ditadas pelas divinas leis,
O Homem Moderno eu canto.
Poetas do Porvir
Poetas do porvir! Oradores, cantores, músicos do porvir!
Não é dia de eu me justificar e responder ao que vim.
Mas vós, nascidos de novo, continentais, telúricos,
atléticos, maiores do que os conhecidos antes,
erguei-vos! pois deveis fazer-me justiça.
Eu mesmo apenas escrevo uma ou duas palavras
indicativas do futuro,
apenas avanço um momento
e logo me apresso a voltar à escuridão.
Sou um homem que, vagando à aventura
sem deter-se nunca muito,
passa a vista casual em frente para logo desviar a cara,
deixando a prova e a definição,
esperando de vós o mais importante.
O poeta Fernando Cabrita, apesar
de poder agraciar-nos com a sua poesia, deu primazia a um poema de Luís
Nogueira, que assina Luís Ene, poeta
farense, para que se possa perceber que se pode fazer poesia com tudo.
certo homem passou a
andar na companhia de gordos.
E porque queria
parecer mais inteligente,
passou a andar na
companhia de idiotas.
Verdade seja dita as
coisas não lhe correram bem: os gordos achavam-no
idiota, e os idiotas achavam-no gordo.
Depois foi a vez do 6º C mostrar
as suas artes, declamando em coro o poema narrativo Nau Catrineta e fazendo uma leitura expressiva de A Bela Infanta, versões recolhidas por
Almeida Garrett.
Finalmente, abriu-se o espaço de
perguntas e respostas e ficou-se a saber que a ideia de organizar estes
encontros internacionais surgiu da vontade de apresentar uma outra vertente de
Olhão, a da cidade engrandecida pela sua atividade intelectual, e a levar as
futuras gerações a orgulharem-se disso. Na sua organização estão apenas seis
pessoas, que participam de forma direta, mas contam com a parceria da agência
literária de Sevilha e o apoio de equipas da CMO para colocação de cartazes,
colocação de cadeiras, etc.
A divulgação do evento começou a
ser pelo Facebook com a partilha de fotografias, contando com a sua divulgação
nas três regiões originais: Portugal, Espanha e Marrocos, e correu muito bem.
Mas o mais importante é haver disposição por parte das pessoas para verem o que
é.
O apoio para a organização deste
festival vem vários lados: da Câmara Municipal de Olhão, que desde o primeiro
instante incentivou a ideia de promover o concelho, colocando-o na rota de
eventos culturais; da Fesnina, com a cedência do auditório para os eventos de
craveira internacional, bem como do Programa 365 Algarve, que contribui para
estes eventos fora da época alta. É preciso pagar a publicidade, os livros
publicados para oferta, o alojamento, comida para quem vem de fora (este ano temos
gente que vem do México, Costa Rica, Rússia, Ucrânia, Bélgica, França,
Finlândia) durante estes dez dias em que decorre o evento.
Satisfeitos com as questões mais
administrativas, os alunos passaram aos aspetos mais criativos, procurando
saber como lhes surgiu esse gosto pela poesia: para o Dr. Fernando Cabrita tudo
começou com a rica biblioteca que tinha em casa que lhe facultou a leitura
precoce e o gosto por esta arte. Para Joaquin Gonzalez Málaga essa sorte partiu
de ter bons professores, que lhe apresentaram poemas de grandes poetas como
Miguel Hernandez, Augusto Machado, Federico García Lorca, a partir de cassetes
de áudio e assim criou esse gosto.
Confessa escrever agora poemas
narrativos, mas gosta também de microficção, isto é, pequenas reflexões. A sua
poesia é sintética, com versos livres, sem rima, com pouca musicalidade e
objetiva levar os outros a pensar. Cultiva a poesia com piada, joga com as
palavras e com os seus múltiplos sentidos, para um público adulto.
Diz ter um carinho muito
especial por Walt Whitman, porque foi o primeiro livro que comprou e está
traduzido no castelhano. Não se atreve a ler os outros autores homenageados,
porque as traduções são em inglês, língua que não domina.
A sessão terminou com uma grande
salva de palmas e ainda com a oferta da Revista Poesia a Sul e uma nova coleção
dos Autores da Poesia a Sul, que se encontram disponíveis na biblioteca para
consulta.
Texto da Prof.ª Cândida
Vieira
Fotografias das Profs Cândida
Vieira e Teresa Pedro
22/10/2019
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